terça-feira, 6 de agosto de 2013

Estúdios de tatuagem de SP colocam saúde de clientes em risco

Pesquisa realizada pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas aponta ausência de cuidados básicos de higiene e biossegurança

Um estudo realizado pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas, unidade da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo referência nacional em doenças infectocontagiosas, aponta que a maioria dos estúdios de tatuagem e body piercing na capital paulista coloca em risco a saúde de seus clientes, dos próprios profissionais tatuadores e da população como um todo, ao não adotarem cuidados básicos de higiene e biossegurança.

O levantamento mapeou 71 estúdios, e serve como advertência às pessoas que procuram os serviços e os profissionais tatuadores e perfuradores corporais que fazem parte do principal grupo de risco de contaminação por hepatites virais.

Dentre os profissionais pesquisados, apenas 35% estavam protegidos contra a hepatite B, isto é, tomaram as três doses da vacina necessárias para garantir a imunização contra o vírus.

A enfermeira Clementina Isihi, autora do estudo, afirma que 87% dos profissionais tinham conhecimento do risco de contrair hepatite trabalhando. “Eles sabiam do risco, mas mesmo assim não se preocupam com a saúde deles e nem a dos seus clientes. A vacina é o ponto de partida para a prevenção, mas o principal ímpeto está na falta de cuidado dentro dos estúdios” esclarece.

Notou-se também problemas na utilização da autoclave para esterilização dos materiais. Dos 78% que referiram o uso do aparelho, 64% prepararam de forma incorreta o material antes de alocá-lo no equipamento. “Notei que eles não lavavam o material antes de colocar na autoclave, e isso é um erro grave.

O ideal é que o material utilizado fique no mínimo uma hora no equipamento a uma temperatura mínima de 170°C, mas muitos nem tinham o controle de temperatura no aparelho ou não respeitavam o tempo mínimo”, afirma a enfermeira.

O estudo apresentou outro dado preocupante: 70% dos profissionais lavaram as mãos antes e depois dos procedimentos sem técnicas adequadas para controle de infecção e 26% não lavaram as mãos. Segundo o infectologista e orientador do estudo, Roberto Focaccia, os riscos de transmissão de doenças em estúdios de tatuagem vão além das hepatites virais. “A lavagem de mão inadequada ou a ausência dela é algo gravíssimo, que aumenta a probabilidade de transmissão de vírus, bactérias e fungos”, explica.

O descarte do material utilizado nos estúdios é outro fator preocupante apontado pela pesquisa. Dos estabelecimentos pesquisados, 83% não solicitam à prefeitura coleta para resíduos sólidos de saúde. Quando isso acontece, todo o material vai parar no lixo comum, colocando em risco a saúde de lixeiros e catadores de materiais recicláveis.

“Apenas 42% dos pesquisados tinham o curso de biossegurança, isso significa que a maioria deles não tem noção básica de cuidados com materiais perfurantes, e colocam em risco não só a saúde deles, como a de toda comunidade”, explica Focaccia.

Segundo o especialista, as transmissões mais comuns em estúdios de tatuagem são de hepatite do tipo B e do tipo C. A contaminação da hepatite ocorre através do contato de uma agulha contaminada com a pele e pela reutilização de tinta.

A vacina que combate a hepatite B está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde), para pessoas com até 49 anos de idade. Os indivíduos pertencentes ao grupo de risco, como tatuadores, manicures, podólogos, bombeiros, gestantes, profissionais da saúde e portadores de doenças crônicas podem e devem tomar a vacina gratuitamente, independentemente da idade.

A fiscalização das condições dos estúdios de tatuagem na cidade de São Paulo é realizada pela Vigilância Sanitária Municipal.

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