Giovanni Guido Cerri
Na saúde pública há algumas áreas em que o sucesso das ações, além do trabalho integrado das três esferas gestoras do SUS (Sistema Único de Saúde), depende diretamente da participação ativa dos cidadãos. Entre elas, a doação de órgãos, a manutenção dos estoques de sangue nos hospitais e o combate ao mosquito transmissor da dengue, já que 80% dos criadouros estão nas residências.
A dengue está presente em aproximadamente uma centena de países em que a condição climática favorece a reprodução do Aedes aegypti. É um problema grave de saúde pública e merece atenção por parte das autoridades de saúde de todo o país.
Neste ano, o vírus do tipo 4 da doença voltou a circular em alguns estados brasileiros. Confirmamos, há alguns dias, a presença do vírus pela primeira vez no Estado de São Paulo, isolado pelo Instituto Adolfo Lutz. O caso foi relativo a uma paciente moradora de São José do Rio Preto, que foi tratada a tempo e está curada.
Com um novo tipo de vírus, há maior número de pessoas suscetíveis a desenvolver os sintomas da dengue, já que elas não estão imunes à doença. A dengue 4, portanto, é uma ameaça nova aos 42 milhões de paulistas.
Não há, entretanto, motivo para alardes. A introdução do vírus 4 da dengue não altera a rotina do trabalho de campo para o controle de criadouros do Aedes aegypti e nem as recomendações para assistência dos pacientes suspeitos nos serviços de saúde. Os sintomas da doença também são iguais aos demais tipos de vírus.
Os governos federal, estaduais e municipais têm papéis distintos e complementares no controle da dengue. Em resumo, ao Ministério da Saúde cabe garantir o financiamento das ações municipais e elaborar as diretrizes nacionais de prevenção e controle, além de prestar consultoria técnica especializada a estados e municípios. Já o governo estadual de São Paulo responde pela capacitação de profissionais de saúde, apoio aos municípios nas atividades de controle e prevenção (como ações especiais de nebulização), monitoramento de índices larvários, orientação e supervisão técnica às secretarias municipais, avaliação dos planos de contingência e diagnóstico laboratorial de casos suspeitos por intermédio do Instituto Adolfo Lutz.
O Estado de São Paulo investe cerca de R$ 40 milhões ao ano para combater a dengue. No último dia 4 de abril, a Secretaria de Estado da Saúde iniciou grande mobilização, reunindo 25 mil agentes em todo o Estado, para uma semana especial de atividades. O objetivo foi chamar a atenção para o problema, não somente naquela semana, já que o combate à dengue deve ser feito o ano todo. Também enviamos um milhão de torpedos SMS por celular com alertas sobre a doença.
Os dados epidemiológicos apontam para uma queda, neste ano, de cerca de 90% no número de casos de dengue, na comparação com 2010. Mas não podemos abaixar a guarda. Com a introdução da dengue 4, é preciso redobrar os esforços, e para isso gostaríamos de poder contar com o imprescindível apoio de todos os paulistas no sentido de removerem os recipientes com água parada em suas residências, eliminando possíveis criadouros e incorporando o combate ao mosquito às suas rotinas. A participação solidária dos cidadãos é essencial para que a transmissão da dengue seja contida. Mais do que nunca, esta é a hora de juntarmos forças para dar um basta na doença.
Giovanni Guido Cerri, médico e professor titular da Faculdade de Medicina da USP, é secretário de Estado da Saúde de São Paulo
segunda-feira, 18 de abril de 2011
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